Câncer de Próstata - Parte 1

CÂNCER DE PRÓSTATA

O câncer de próstata (CaP) permanece como uma importante causa de morbidade e mortalidade no mundo. Sabe-se que quanto mais precoce o seu diagnóstico, maior a chance de cura da doença. Todavia, ainda havendo demora na busca de tratamento ou diagnóstico precoce devido aos tabus e conceitos/preconceitos (machistas) de criação antiquada.

 

Primeiramente, a próstata é uma glândula exclusiva do sexo masculino e se localiza no abdômen inferior. É um pequeno órgão, com formato de maçã, do tamanho de uma noz e se situa entre a bexiga e a uretra (canal por onde a urina passa) e à frente do reto (parte final do intestino, por onde saem as fezes). Por dentro da próstata passa a uretra, o que explica o motivo das alterações prostáticas originarem dificuldade para urinar, queixa comum nos homens com mais de 50 anos. Na maioria dos casos, essa dificuldade é causada pelo crescimento benigno da próstata, que ocorre com o avançar da idade e recebe o nome de hiperplasia prostática benigna. Em geral, esses pacientes apresentam redução da força e do calibre do jato da urina e vontade de urinar frequentemente. A hiperplasia benigna da próstata pode ser tratada com medicações orais ou mesmo com cirurgias endoscópicas (pelo canal da uretra, dentro do pênis). Com isso, a qualidade de vida dos pacientes melhora sensivelmente. A próstata produz parte do sêmen, líquido espesso que contém os espermatozoides, liberado durante o ato sexual. O câncer mais comum da próstata é o adenocarcinoma, que tem origem nessas glândulas produtoras de sêmen.

 


No Brasil, o câncer de próstata é o segundo mais comum entre os homens (atrás apenas do câncer de pele não melanoma). A taxa de mortalidade, porém, vem caindo graças a mais informação, aos exames periódicos que detectam o câncer em estágios iniciais e a tratamentos mais modernos.

 

De acordo com o INCA, em 2020, o número de novos casos giraram em torno de 65.840, correspondendo a 29,2% dos tumores incidentes no sexo masculino e o número de mortes por câncer de próstata chegou a 15.841.

 

O câncer de próstata é considerado um câncer da terceira idade, pois 75% dos casos no mundo ocorrem a partir dos 65 anos. O aumento observado nas taxas de incidência no Brasil pode ser parcialmente justificado pela evolução dos métodos diagnósticos (exames), pela melhoria na qualidade dos sistemas de informação do país e pelo aumento na expectativa de vida.

 

Alguns desses tumores podem crescer de forma rápida, espalhando-se para outros órgãos e podendo levar à morte. Porém, a maioria cresce de forma lenta (cerca de 15 anos para atingir 1 cm³) que não chega a dar sinais durante a vida e nem a ameaçar a saúde do homem.

 

Tipos de Câncer de Próstata:


Adenocarcinomas:


É o tipo de câncer de próstata mais comum, sendo responsável por 95% dos tumores malignos. Podem ser de baixo grau, grau intermediário e alto grau. Os tumores de baixo grau são formados por células bem diferenciadas, que guardam certa semelhança com as células prostáticas normais. Os de alto grau são compostos de células com alto índice de proliferação, muito diferentes do tecido normal da próstata e mais agressivos.


Tipos mais raros de câncer de próstata:


Os demais 5% incluem tipos bem mais raros: carcinomas de pequenas células, sarcomas e linfomas.


Sintomas:


O câncer da próstata tem evolução silenciosa na maioria das vezes. Muitos pacientes não apresentam nenhum sintoma ou, quando apresentam, são semelhantes aos do crescimento benigno da próstata:


- Micção frequente (Urinar várias vezes),

- Fluxo urinário fraco ou interrompido (diminuição do jato de urina),

- Vontade de urinar frequentemente à noite (Nictúria) ou durante o dia,

- Sangue na urina ou no sêmen.

- Dificuldade de urinar;

- Demora em começar e terminar de urinar;


Na fase avançada:


- Disfunção erétil,

- Dor no quadril, costas, coxas, ombros ou outros ossos,

- Fraqueza ou dormência nas pernas ou pés,

- Infecção generalizada ou insuficiência renal.


Fatores de risco:


- A idade é um fator de risco importante, uma vez que tanto a incidência quanto a mortalidade aumentam significativamente após os 50 anos. A maioria tem mais de 50 anos e dois terços têm mais de 65 anos. 

- Pai, irmão, avós, tios ou filhos com ou que tiveram câncer de próstata, especialmente se eram jovens na época do diagnóstico, podendo refletir tanto fatores genéticos (hereditários) quanto hábitos alimentares ou estilo de vida de risco de algumas famílias. Excesso de gordura corporal aumenta o risco de câncer de próstata avançado. Apenas uma pequena subpopulação de homens com câncer de próstata (aproximadamente 9%) tem doença verdadeiramente hereditária, definida como três ou mais parentes afetados ou ao menos dois parentes com câncer de próstata diagnosticados antes dos 55 anos de idade. Indivíduos afrodescendentes mostram maior risco e tendem a ser acometidos por uma doença mais agressiva.

- Exposições a aminas aromáticas (comuns nas indústrias química, mecânica e de transformação de alumínio), arsênio (usado como conservante de madeira e como agrotóxico), produtos de petróleo, motor de escape de veículo, hidrocarbonetos policíclicos aromáticos (HPA), fuligem e dioxinas estão associadas ao câncer de próstata.

- Fatores genéticos como alteração nos genes BRCA 1 e 2 e ATM estão associados ao aparecimento da doença em fases mais precoces da vida e com casos de pior evolução prognóstica.


Entre os fatores que mais ajudam a prevenir o câncer de próstata estão:


- Ter uma alimentação saudável,

- Manter o peso corporal adequado,

- Praticar atividade física,

- Não fumar,

- Evitar o consumo de bebidas alcoólicas.


Já está comprovado que uma dieta rica em frutas, verduras, legumes, grãos e cereais integrais, e com menos gordura, principalmente as de origem animal, ajuda a diminuir o risco de câncer, como também de outras doenças crônicas não-transmissíveis. Nesse sentido, outros hábitos saudáveis também são recomendados, como fazer, no mínimo, 30 minutos diários de atividade física, manter o peso adequado à altura, diminuir o consumo de álcool e não fumar.


Rastreamento:


A detecção precoce do câncer é a melhor estratégia utilizada para encontrar um tumor numa fase inicial e, assim, possibilitar maior chance de tratamento bem sucedido. Pode ser feita por meio da investigação com exames clínicos, laboratoriais, endoscópicos ou radiológicos.


A Sociedade Brasileira de Urologia (SBU) recomenda que o rastreamento seja feito através de exame de sangue (PSA - antígeno prostático específico) e do toque retal (através do qual o especialista pode sentir nódulos ou tecidos endurecidos), a partir dos 45 anos para todos os homens e a partir dos 40 anos para aqueles da raça negra ou que têm história de câncer da próstata na família.


Quando há alguma alteração no rastreamento, é necessária a realização de biópsia da próstata. Se o diagnóstico de câncer for confirmado pela biópsia, deve-se definir qual tratamento será instituído, o que dependerá do estágio da doença e das particularidades de cada paciente.


O PSA é uma substância produzida naturalmente pela próstata. Na maioria dos homens, os níveis de PSA estão abaixo dos 4 ng/ml (nanogramas por mililitro), mas, se o nível de PSA está entre 4 ng/ml e 10 ng/ml, há 1 chance em 4 de câncer de próstata. Acima de 10 ng/ml, as chances de ter câncer vão subindo à medida que aumentam os níveis de PSA. No entanto, há homens com PSA abaixo de 4 ng/ml que têm câncer de próstata. Esses valores vêm sendo revistos aos poucos e, hoje, pacientes com PSA acima de 2,0 ng/ml já apresentam riscos de câncer de próstata. Homens com PSA abaixo de 1 ng/ml têm poucas chances de ter esse câncer.



Ilustração de teste sanguíneo: PSA

Várias doenças também podem causar aumento de PSA, como hiperplasia benigna, infecções da próstata, infecções urinárias e doenças sexualmente transmissíveis, além de alguns medicamentos e o próprio envelhecimento.


IMPORTANTE: Vale lembrar que há casos de pacientes com câncer de próstata, mas com níveis normais de PSA, e alguns tipos de câncer de próstata agressivos que não causam aumento de PSA no sangue. Por isso, o exame de PSA sozinho, sem avaliação clínica do médico, não basta para diagnosticar ou descartar o câncer.


Diagnóstico:


A indicação de biópsia de próstata baseia-se nos achados anormais do exame de toque retal e/ou PSA elevado. Atualmente é rotineiro que se solicite uma Ressonância Magnética multiparamétrica (RMmp) antes da biópsia, para avaliar a necessidade e aumentar a acurácia do procedimento.


É a biópsia que confirma ou não a existência do câncer, muitas vezes guiada por ultrassonografia transretal ou transperineal. As taxas de detecção de câncer são comparáveis, porém algumas evidências sugerem menor risco de infecção com a via transperineal. O método é por punção de agulha, um exame que dura cerca de 15 minutos, sob anestesia ou sedação.


O diagnóstico de certeza do câncer é feito pelo estudo histopatológico do tecido obtido pela biópsia da próstata. O relatório anatomopatológico deve fornecer a graduação histológica do sistema de Gleason ou o método mais novo, ISUP, cujo objetivo é informar sobre a provável taxa de crescimento do tumor e sua tendência à disseminação, além de ajudar na determinação do melhor tratamento para o paciente.


Outros exames que auxiliam no diagnóstico:


- Tomografia de abdome total e tórax para verificar se o câncer alcançou os gânglios linfáticos da pelve e metástases à distância;

- Ressonância Magnética Multiparamétrica (RMmp) tem assumido papel de destaque como estratégia complementar de rastreamento de tumores prostáticos, sendo capaz de evitar biópsias desnecessárias nos pacientes que apresentam baixa probabilidade de tumor ao exame (reduzindo custos, riscos e a ansiedade do paciente). Já nos casos em que a RMmp identifica lesões suspeitas, idealmente deve-se proceder à biópsia prostática com fusão de imagem, com resultados consideravelmente melhores que a biópsia padrão no diagnóstico de tumores mais agressivos. Biópsia com fusão de imagem é um método no qual as imagens da RMmp são sobrepostas às imagens da ultrassonografia durante a biópsia de forma a localizar as áreas suspeitas para tumor. A ressonância também é fundamental no planejamento do tratamento;

- A tomografia computadorizada com emissão de pósitrons (PET-CT) com antígeno de membrana específica da próstata (PSMA) é cada vez mais utilizada, pois melhora a detecção das lesões, tem maior sensibilidade para metástases linfonodais em comparação com a RMmp e TC abdome total com contraste e pode detectar metástases viscerais;

- Cintilografia óssea com 99mTc tem sido o método mais utilizado para avaliar lesões ósseas secundárias e pode ser solicitada se suspeitar que o tumor atingiu os ossos;

- Testes genômicos e proteômicos: Outra maneira para se ter uma idéia da rapidez com que o tumor se desenvolve ou se dissemina é usando os testes de laboratório que analisam quais genes (ou proteínas) estão ativos dentro das células prostáticas. Esses testes incluem Oncotype DX Prostate, Prolaris, ProMark e Decipher.


Estadiamento:


Além da tradicional classificação TNM (Sistema usado para a classificação de tumores malignos e a descrição de sua extensão anatômica, desenvolvido e publicado pela União Internacional contra o Câncer – UICC), utiliza-se também a estratificação D'Amico, que agrupa pacientes com risco de recorrência bioquímica após prostatectomia radical ou radioterapia.


O sistema mais usado para estadiamento do câncer de próstata é chamado de escala de Gleason modificada. Nesse sistema, amostras de duas áreas da próstata são analisadas e graduadas em grupos prognósticos de 1 a 5. Quanto menor o valor, mais as células e glândulas das amostras se assemelham a células normais da próstata. Quanto maior o valor, é mais provável que o câncer cresça rapidamente.


O médico faz o estadiamento do câncer de próstata baseado nos resultados do toque retal, do PSA, dos exames de imagem e da escala de Gleason modificada. Os estágios da doença são indicados por algarismos romanos, que vão de zero a IV (4) e quanto maior o número, mais grave a fase da doença.


Tratamento:


- Para doenças localizadas: cirurgia, radioterapia e até mesmo observação vigilante (em algumas situações especiais) podem ser oferecidos.

- Para doença localmente avançada: radioterapia ou cirurgia em combinação com tratamento hormonal têm sido utilizados.

- Para doença metastática (quando o tumor original já se espalhou para outras partes do corpo): o tratamento inicial é a terapia hormonal.


Novos agentes hormonais e novas quimioterapias foram desenvolvidas nos últimos anos, assim como agentes modificadores de metástases ósseas.


A escolha do tratamento mais adequado deve ser individualizada e definida após discutir os riscos e benefícios do tratamento com o especialista. O tratamento vai depender do estadiamento inicial e localização do tumor. Contempla cirurgia, radioterapia, quimioterapia, hormonioterapia, vigilância ativa e uma equipe multidisciplinar com cirurgião oncológico/urologista, oncologista clínico, fisioterapia, acupuntura, enfermagem, psicologia e cuidados paliativos.


O sucesso do tratamento é a avaliação e individualização caso a caso. Não se tratando o câncer apenas, e sim o indivíduo como um todo, com medos, anseios e desejos.


Agende uma consulta com seu médico especialista, faça rotinas de prevenção e mude os hábitos de vida.

 

Para maiores informações sobre os mais atuais tratamentos no câncer de próstata, acesse meu artigo conforme link no final desta página.

Referências: 


- BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Rastreamento. Cadernos de Atenção Primária, n. 29 Brasília: Ministério da Saúde, 2010. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/caderno_atencao_primaria_29_rastreamento.pdf

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- WORLD HEALTH ORGANIZATION. Guide to cancer early diagnosis. World Health Organization, 2017. Disponível em: https://apps.who.int/iris/handle/10665/254500

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- Feig, BW et al. The MD Anderson Surgical Oncology Handbook. 6. ed. Philadelphia: Wolters Kluwer, 2019.

- Oliveira, AF et al. Tratado brasileiro de cirurgia oncológica da Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica. 1. ed. - Rio de janeiro: Rubio, 2022.

- Wood, WC, Staley, CA, Skandalakis, JE. Bases Anatômicas da Cirurgia do Câncer. 2. ed. - Rio de Janeiro: DiLivros, 2011.

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